terça-feira, 3 de setembro de 2013

Carta 022-B

AINDA Hilsfar, 26 de Elesias





Caro mestre Castelão:

Perdão por dividir a carta, mestre. Creio que não contabilizei direito o papiro após a lista de nomes de elfos.

Ah, sim... Minha vingança.

Eu não conhecia o lado "caçador" de Faelar. Foi mesmo uma surpresa... Não iria exagerar ao ponto de dizer que gostei, mas ele mergulhou na caça como se ele tivesse passado por aquela humilhação conosco. E o fato de correr pelas paredes como lagartixa tomando a dianteira enquanto eu lutava para vencer os obstáculos me lembrou as caçadas que eu tinha com Humano.

Taí um bom elogio ao elfo: Poderia manter como um bichinho de estimação.

A loja na qual a meretriz entrou era uma lavanderia. Estávamos muito próximos a ela para ter usado um disfarce... Mas suspeitei da humana gorda e resmungona que nos afrontou quando irrompemos por suas portas.

 Aquilo era um complicador impensado... Muitos lugares a se esconder. E o tempo que demorávamos a manter contato visual aumentava a possibilidade de desaparecer...

 A mulher se mostrou intransigente. Similar aos ladinos, éramos invasores, mas uma coisa é temor por seus domínios, outro é a carga de insultos por não sermos "humanos". Mas tudo valeria se eu tivesse derramado o que sobrou de sangue de Rowan

 A porcaria de estrutura de formigueiro da cidade humana... Bem, vou corrigir. Há ordem nos Formigueiros. A despeito do tamanho, o Gueto Humano de nossas terras é quase o palácio de Moradim se comparado aos sobrados entulhados, com lojas no térreo e apartamentos nos pisos mais altos. E se já não fosse uma loucura, os prédios eram interligados! Não a toa os humanos tendem à ladinagem... Se abrir uma fechadura, têm-se acesso a várias casas de comércio e residências!

 Sabendo que Gatts estava nos andares superiores, e tanto guardas como nosso "apoio seguro" estava na entrada da primeira loja, seguimos a linha mais óbvia de fuga na direção de uma rua. Emergimos em uma cozinha ou restaurante, e fomos confrontados por um senescal com mesmíssima atitude da mulher da loja anterior.

 Tinha urgência, e havia peso na consciência por eles estarem parcialmente certos. Lancei mão do saco de prata para tentar torná-lo mais amigável... Mas ele afirmou que  não viu nada. Ou mentia para acobertar a desgraçada - o que nos gastaria tempo que não tínhamos insistindo - ou não foi a rota tomada pela nossa inimiga. Decidimos acreditar nele, e buscar outras alternativas.

 Nyn e Sebastian surgiram. Eles tinham se livrado temporariamente dos guardas, e o elfo pequeno podia rastrear novamente a espada de Rowan Ela estava mesmo em outra direção que não a do senescal. E por isso, achamos uma passagem secreta.

 Ela interligava um pátio comum com poço entre mais dois prédios nas proximidades! E já havíamos nos atrasado demais. Mas até então era pouco problema... Com Nyn sendo capaz de rastrear a meretriz, e com testemunhas para alertar um intruso, ainda estávamos na caçada.

 Orientado por mim, Sebastian fez uma busca por rastros. O Poço era de onde Nyn recebia o sinal. Infelizmente, ele percebeu que pegadas de humanoide tornava-se pequenos passinhos de rato. Nyn lembrou que diferente dos druidas, quando um licantropo torna-se um animal, perde todos os itens e roupas. Provavelmente ela jogou seu pertence mais valioso no poço, na esperança de resgatar depois...

... E acidentalmente tirou Nyn da pista.

Comecei a me desesperar. Estava perto demais da vingança para perdê-la. Sebastian achou uma fresta por onde ela teria escapado. Era uma casa, já alertado por nossa presença, e urrando contra os elfos selvagens disseminadores de doenças!

 Como podem ser tão preconceituosos? Tadinhos dos elfos! Generalizando daquela forma um preconceito! Humanos de Hillsfar são fascistas ignorantes que cruzam com seus parentes!

 Tentei passar-me por um Pluma Vermelha com o chapéu dos disfarces, enquanto o resto do grupo resgatava Kalatangas, a espada dos vermes. Eu não convenceria com ordens, então tentei só mantê-los calados enquanto investigava a fuga da meretriz-rato. Mas com a gritaria daquelas pequenas crianças ufanistas mais quatro guardas chegaram para averiguar.

 Eu jamais me passaria por um soldado humano. Sou competente e profissional demais. Estavam em uma situação delicada dentro de um poço, então quis conseguir tempo para o grupo, e sacrifiquei minha carne para isso. Mantive os soldados distraídos comigo.

 Estava com o foco dividido entre matar aqueles tiranos racistas, com a vadia escapando, e sem saber quão vulnerável o meu grupo estava. Isso condenou minha competência... Porém, mesmo em seus piores dias, Tholen da Torre do martelo era guerreiro demais para o bando. Eu só tinha passado a noite inteira entre batalhas e perseguições. Se tivessem o dobro de membros, eu teria uma luta equilibrada.

 Enfim, quando o resto do grupo retornou, eles foram massacrados.

 Para o resto, a missão tinha sido um fracasso parcial. Tínhamos a arma que concedia a Rowan seu exército, mas a vilã fugiu. O gosto de doce vingança tornava-se fel em minha boca, e só um milagre poderia nos devolver à pista.

 Eu sempre fui um guerreiro honrado devoto a Moradim. Um dia na vida de todos os seguidores, de qualquer dos deuses, teríamos direito a um milagre em momentos chave de nossa vida. E eu definitivamente queria que fosse aquele. Era tudo o que me restava.

 Eu me passei pelo líder do bando que acabamos de liquidar e fui para a rua. Faelar, ainda inebriado com a caça, gostou da idéia e me seguiu repetindo o feito e ocultando os cadáveres simulados. O milagre emergiria lá, na forma de um novo indício de rastro de Rowan, o qual daria a meu martelo sangue de roedor...

...

Mais OITO guardas surgiram.

O dobro, e desta vez, o grupo estava em fuga. Era eu e o ninja. Só.

Moradim é mais sábio que eu... Ele deve ter guardado o milagre para um momento futuro da minha vida. E vai ser um milagre muito bom, para colocar esse saco de estrume fumegante no batente de minha porta!

Se tivéssemos começado com ataques logo que vimos os desgraçados, teríamos reduzido a ameaça ou usado de técnicas de confronto apropriadas... Mas a maldita idéia do milagre nos guiou a tentar se enturmar, talvez tirá-los da pista dos outros, e com muita sorte, ouvir um boato sobre a localização da ratazana...

... Alguém não pagou a taxa da sorte naquela noite. O que recebemos em troca da civilidade é um ataque flanqueado coletivo de 4x1.

Até que Faelar se virou bem. Eu comecei lento procurando abrir brechas para ele se posicionar melhor... Mas isso só me atrasou e foi desnecessário. O ninja queimou seu melhor jogo, mas bastou para se manter vivo na luta. Foi uma longa batalha, mas enfim sem recursos extras ou cobertura dos atacantes a distância, triunfamos.

Eu normalmente não admitiria isso... Tipo, um elfo não é 100% imprestável... Mas como esta noite foi uma merda mesmo, dane-se!

Recuamos para a Guilda dos ladrões. O local foi abandonado. Mas nenhum rato vivo permaneceu. Sei lá... Eu diria que os ratos venceram os ladrões e nós vencemos os ratos... deu empate?

Sem prêmios, sem glórias, e sem a vingança. Só nos restava retornar.

Sabe, eu parti de meu lar pensando em me tornar um sábio lutador, para quando eventualmente regressar ao Forte das Armas ser competente na minha nova posição. Uma das lições que eu aprendi entre Harpistas, regentes e do próprio Elminster foi a questão do equilíbrio das forças. Hillsfar, por exemplo, se seguissem com nosso plano de quando deixamos o Tar, já teria sido derrubada. Mas ela era um baluarte local de resistência contra os Zentarins, os quais eu senti na carne o quanto eram maus e traiçoeiros. compreendi que poupar Hillsfar para neutralizar o Forte Zhent era uma coisa sábia, e tive orgulho de aprender isso.

Mas lá dentro, vendo aqueles ladrões covardes e imbecis, soldados corruptos e abusivos, e mesmo o povo intolerante e ignorante, não vejo como deixar de pé esse cortiço avolumado. Mesmo com o risco de beneficiar os Zentarins, estava decidido a retornar... E iria arruinar aquele antro tanto quanto eu pudesse.

Eu posterguei mais uma vez a vingança. Sem a ameaça dos ratos, a agitação louca de Hillsfar iria diminuir com o tempo. Teríamos que nos esconder menos. Catar mais informações sobre Rowan e fazer uma armadilha apropriada, sem ter de correr para interceder na batalha contra nada nem ninguém.

Até breve.

Tholen da Torre do Martelo, Flagelo de Vorbyx e vingador frustrado.

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